Sexta-feira – 21/09
15:00
Então vamos lá! Voltamos pro Cabanga o mais rápido possível pra atender logo esta exigência da regata, que parece um pouco chata, mas só quando se tem um problema em alto mar é que se dá valor a tudo o que a Capitania dos Portos exige que tenhamos a bordo.
Assim que pisei no Cabanga, já encontrei os oficiais à inha procura. Pegamos o bote e fomos direto pro brco. Por mais seguro que eu me sentia em relação à lista de exigências, sempre tem um detalhe que aparece e é preciso sanar.
No caso do “Adrenalina Pura” por exemplo, o que parecia impossível aconteceu; é que este ano a Marinha passou a exigir um colete Classe 01, que vem equipado com uma lâmpada que acende assim que toma contato com a água. E é um ótimo equipamento. No Adrenalina os coletes são importados, e não só têm a tal lampadinha, como inflam ao contato com a água e têm tecnologia de ponta. A Marinha não aceitava!!!
Pois é; eu também acho. Mas...
Começamos com a relação: eles me pediam, sentados na gaiuta de entrada, porém do lado de fora, sentados no convés, e eu dentro do barco seguia providenciando. Primeiro problema: alguns de meus fogos sinalizadores venceriam em novembro, um mês depois da regata.
- Não vai dar comandante, o Sr. vai ter que providenciar outros, me disse o oficial.
Troço caro é fumígero, viu! Ok, pendência sanada! Próxima: buzina. Cadê?
Mas tenho apitos, vários!!!
- Não serve, é preciso ter buzina, daquelas manuais.
Pensei: Não tem problema providencio tudo ali mesmo na lojinha que o Vicente Gallo, do Ave Rara, instalou dentro do clube. Só isso?
- Tá, tá liberado comandante, Providencia essas pendências, nos apresenta até as 17 hs de hoje e boa viagem.
Eu tenho que confessar que eu tava doido pra ouvir isso, não por nada, mas porque seria uma obrigação a menos pela frente.
Vamos lá! Agora o pessoal da TV já chegou e estão ali me esperando. Mal pisei em terra pra deixar os oficiais e passei a lista de pendências pra Flavia providenciar, e já estava voltando pro barco com o pessoal da TV Clube. Eram cinegrafista, dois apresentadores de dois programas diferentes, o Artur tigre do “PLUGADO”, e minha já amiga Gardênia Cavalcanti. Além deles a Aline Ramos assessora de imprensa responsável por todo este espaço na imprensa, e quatro telespectadores que ganharam o direito de velejar conosco nesta tarde. Além deles não esqueça: ainda tem eu, o Marquinhos e o Pedro!
Vai caber? Tem que caber! O problema é que eu tinha acabado de fazer a vistoria da Capitania e assumido a capacidade do barco: seis passageiros! Agora eu tinha treze pessoas a bordo!Tudo em nome da divulgação da Vela, afinal é só até ali no Marco Zero do Recife!
Deu tudo certo, e o pessoal simplesmente adorou a experiência. Eu não me canso de me surpreender com a reação das pessoas que velejam conosco pela primeira vez. É realmente um barato!
Bem, agora é descansar, dormir cedo e amanhã – Noronha!
Quem disse?
Assim que eu cheguei em terra encontrei com o JP que foi logo dizendo:
- Você tem uma calça comprida?
- Tenho ali no barco.
- Então corre lá, se troca e vamos comigo numa recepção no Cisne Branco.
- Evento delicioso, muita gente bacana, comida boa, o Cisne, e resultado: Cheguei 01 hora da manhã no hotel!!!!
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Parabéns pra quem teve a brilhante idéia de mudar o horário da regata pra de tarde; assim eu pude dormir até mais tarde. Não esqueça que eu ainda não fiz mercado! Café da manhã reforçado, com o notebook ligado na mesa de olho na meteorologia. Vamos ter vento! Saímos do hotel umas 09:30h levamos toda a bagagem pro barco, e fomos pro mercado. Ainda parei pra comprar uma bateria nova pro barco, pois a velha não tava inspirando muita confiança.
Mercado, clube, arrumação do barco, almoço no japonês dentro do Cabanga, a tal “palhoça”, e vamos nessa relaxar e comer pra enfrentar a regata. Uma em ponto saímos do Clube, porque ainda tinha que pegar nossos dois convidados lá no PIC, que é o outro clube que fica perto do Marco Zero, o Vladimir e o Paulo. Eles estavam no camarote da Petrobrás, se despedindo dos amigos e parentes. Uma e quinze já estávamos lá e eles vieram a bordo.
Às 14 horas partimos, na primeira largada. Genoa 2, e a forra da mestra preparada pra o que aparecesse mais tarde, afinal a previsão é vento, muito vento. Largamos bem e nos mantivemos bem na primeira noite com uma singradura inacreditável de 149 milhas. Eu não esperava! Média de seis nós é bem legal para um barco de aço com apenas 30 pés. Que ótimo!
A primeira baixa foi o Paulo. O Vladimir agüentava firme, e o Mario também, embora um pouco mareados. Já o Wendel não tinha jeito, foi só entrar em mar aberto e enjoou. Sobrou pra mim e pro Marquinhos. Longos turnos de três horas cada um, e muito, mas muito cansaço.
Na segunda noite não houve muita mudança a bordo. O astral era ótimo apesar de o estado de Paulo ter piorado muito e agora ele mal se levantava. Um pouquinho sentado e pronto, vomitava de novo. Não tinha Dramim que segurasse. Foi aí que eu detectei meu primeiro erro. Não verifiquei os agasalhos dos convidados antes do embarque. Chegou lá não eram adequados e passaram muito frio.
Pense em uma situação assim: você está de moto, no vento a 20 quilômetros por hora, é noite, e de vez em quando chove e pára! É assim! Seu corpo vai esfriando devagar, você vai se encolhendo e a cada nova onda que lava o convés você esfria mais, e assim vai. E o que é pior: de 16 horas em diante até umas nove da manhã é isso. Só vai esquentar um pouco perto do meio dia.
O domingo foi passando o vento caiu um pouco, dos vinte, vinte e dois, para quinze, dezoito na rajada, e a vela de proa começou a parecer pequena. Mas se eu trocar e a noite apertar de novo, não terei tripulação pra destrocar. Não tenho enrolador de genoa, é no garruncho, o bote tá na proa, tem pouco espaço, muito mar, vamos continuar assim. Amanhã de dia eu decido se troco pela Genoa 1. Aí é de dia tudo bem, pensei.
Foi acertado. Nunca se sabe o que vai se enfrentar à noite, apesar do céu claro, e nenhum sinal de Pirajá por perto. Foi melhor assim, mas aumentamos um pouquinho o tempo de nossa viagem. Paciência, não se pode ter tudo. A segurança em primeiro lugar, sempre.
Segunda-feira chegou, e a previsão era de chegarmos umas dezessete horas ao Arquipélago. Tomara mesmo, eu adoro chegar de dia, desfrutar o visual, procurar os golfinhos, vai ser ótimo. Mudamos a genoa, o barco melhorou, e seguimos em frente. O Marquinhos atacou a cozinha e com a competência de sempre, tirou de lá um excelente arroz de carreteiro, com tudo que a gente tinha direito. Todo mundo comeu, inclusive o Paulo, depois de eu insistir bastante ele decidiu comer um pouco. Foi a salvação! O cara acordou, ficou alegre, mudou de fisionomia, começou a contar casos, e não demorou fizemos suma aposta pra ver quem veria a ilha primeiro.
Lembrei que em 2005, eu estava a 18 milhas do Arquipélago, e nada! Tinha uma névoa que não deixava a gente ver nada! E foi exatamente assim, só apareceu a 17 milhas, e foi outro evento. É incrível a mudança de astral a bordo com a expectativa da chegada. Até o Wendel melhorou!
Assim que avistamos entrei no rádio e conversamos com “Noronha Rádio”, passamos nossa posição, e tranqüilizamos o pessoal da Petrobras que já estava angustiado por notícias nossas e de nossos convidados. Aproveitei pra descobrir quem tinha vencido o clássico pernambucano Náutico x Sport, porque o Paulo(Náutico) e o Vladimir(Sport), já tinham imaginado toda a sorte de palpites e placares dos mais diversos. A notícia de que o Náutico venceu por 2x0, foi a pá de cal no mal estar do Paulo, que a esta altura até piada contava!
Depois de se passar um ou dois dias a bordo de um barco, tem-se a impressão de que é possível ficar ali pra sempre! Cruzamos a raia 17:51hs, fazendo o percurso em 51 horas e 51 minutos. Pra quem já tinha feito em 15 horas em 2001, no Adrenalina Pura, quando eu era um mero aprendiz de marinheiro, até que piorei bastante a média, né?!
Hoje o objetivo é outro. Estou na regata, mas nem de perto sou um competidor. O barco é pequeno, é de aço, e tem o objetivo claro de proporcionar esta experiência a pessoas que querem viver tudo isso pela primeira vez. Este objetivo foi cumprido. Satisfação total e muita história pra contar quando chegar em casa.
Agora é preparar a volta pra Salvador. Quinta feira que vem a gente começa a voltar. Mas aí...
...aí é outra história.
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