A nossa viagem foi cercada de êxito desde a saída de Salvador, na Bahia Marina, menos de uma semana antes da largada da REFENO. Tá certo que a preparação do barco foi uma verdadeira loucura, já que por se tratar de uma embarcação nova, muitas surpresas nos aguardavam, principalmente no que diz respeito aos ajustes.
Quando o prazo já não suportava mais adiamentos, partimos com destino a Recife com quatro tripulantes a bordo: Além de mim, meu amigo Marquinhos, instrutor de mergulho, grande marinheiro, pau pra toda obra, dono de um humor inabalável. Só não tinha muita paciência com a incrível quantidade de sono de nosso outro tripulante, o Wendel, que para não enjoar, tomava Dramim de seis em seis horas, e quando não estava no seu turno de leme, dormia. Como ele (Marquinhos) não enjoa nem cheirando óleo diesel dentro do paiol fechado, quando tinha que acordar o Wendel pra ajudá-lo em alguma coisa era até engraçado!
E por falar em Wendel, o escolhi para fazer parte da tripulação, porque dá gosto ver como ele sempre se interessa pelas coisas da vela. Sempre foi muito interessado pelo programa, mesmo muito pequeno, quando me abordava pelas dependências do saudoso Centro Náutico da Bahia, fazendo as suas aulas no projeto Navegar. Ele é uma prova de que quando você dá uma chance para um garoto de baixa renda de aprender um esporte, oferecendo a ele elementos pra que se apaixone por isso, pode crescer e muito. O Wendel hoje é instrutor de vela e com certeza vai crescer muito no esporte.
Mas infelizmente o Wendel também é um exemplo de que nem sempre o velejador de monotipo, muito acostumado ao ritmo de regatas todos os finais de semana, montando e desmontando os barquinhos, pode ser um bom velejador em provas de Oceano. Lá fora o esporte é outro. O enjôo é a primeira barreira a ser transposta, depois o cansaço, e principalmente o ritmo dos turnos. Trabalhar no leme em turno de uma hora, com intervalos de descanso de três horas, 24 horas por dia realmente é uma rotina bem diferente das regatas de barla-sota com no máximo três horas de duração.
E o Wendel sofreu!
O outro tripulante, o Pedro, amigo de Marquinhos, velejador iniciante e lancheiro, demonstrou que prática não é pré-requisito para se fazer uma viagem como esta. O Pedro timoneou, cozinhou, trabalhou, velejou, dormiu e acordou sempre com o astral lá em cima! Foi realmente uma grande falta o Pedro não ter podido continuar conosco até Noronha, porque seu alto astral e sua disposição pra resolver qualquer problema, a qualquer hora do dia ou da noite, teria realmente feito muita diferença pra mim e pro Marquinhos, os dois sobrecarregados com os enjôos constantes de Wendel.
Mas o que fazer? A faculdade, o trabalho, a namorada... Quem sabe o ano que vem?
Chegamos em Recife muito bem e sem nenhum problema no barco. A velejada muito tranqüila com vento fraco; apenas a Genoa 1 que trabalhando muitas horas, roçando no guarda mancebo rasgou perto do punho. Tivemos que trocar, o que fizemos isso sem nenhum problema, colocando a Genoa 2, que foi até Recife.
No cardápio um pouco de tudo:macarronada, arroz de carreteiro com carne de sertão e calabresa e até uma suculenta feijoada, que no final acabou me fazendo mal. Normal. A chegada em Recife foi bem cedo, na quinta – feira (20), a dois dias da largada; e meu pensamento era um só: como eu conseguiria resolver as pendências e ainda cumprir a agenda de compromissos com a imprensa que tínhamos agendado?
Tinha que dar de qualquer maneira.
Assim que chegamos tratamos logo de ir pra terra e providenciar um banho caprichado, comer alguma coisa e voltar pro barco para as arrumações, colar os adesivos no costado, que ainda não tinham sido instalados, fazer a limpeza do barco, tirar o lixo, abastecer o barco com água e diesel, colocar as roupas de tempo pra secar, inscrição na regata, vistoria da Marinha, vistoria da Anvisa, reunião de comandantes, fazer mercado, consertar a genoa que rasgou, gravações de matérias com a organização, velejadores, entrevista na Rádio Clube de Recife e à noite a festa de abertura do evento. Como ia dar tempo? Só deixando acontecer!
No meio da arrumação do barco chegou o pessoal da Anvisa. O objetivo da visita era saber se os alimentos, medicamentos, protetores solares, etc, estavam dentro do prazo de validade. O motivo é justo, mas no meio da arrumação do barco? Mas, mal chegamos! Sabe aquela obrigação que você tem que fazer e que não adiantará nada adiar? Então, que seja agora, assim a gente já risca uma coisa da lista dependências.
Terminada a Anvisa fomos pra terra, e até que você termine o processo do banho, aumentado com fato do encontro com os outros velejadores, que sempre querem conversar e comentar sobre a viagem (como foi, se tinha vento, se pescou, quem falta chegar, qual a previsão do tempo, essas coisas...). Quando dei por mim já eram 11 horas. Fui até a Marinha, mas a lista estava completa para aquela manhã. À tarde, ok? Pensei comigo, mas à tarde tem a entrevista na rádio! Vai dar tempo? Seja o que Deus quiser.
Encontrei com a Flavinha, que tinha chegado na frente e além de toda a nossa agenda, me passou os dados do hotel que eu ficaria até o momento da largada. Tenho que confessar que mesmo amando o mar como amo, depois de passar quase quatro dias no mar, encontrar um chuveiro de hotel é reconfortante!
Refeito, voltei ao Cabanga, almoçamos e fomos pra Rádio iniciar o processo de divulgação sobre a nossa presença em Recife e nossa participação na prova. Foi massa. O locutor, Beto Café, é uma simpatia e o papo rolou fácil. Deu pra matar a saudade dos meus tempos (bons tempos!!) de microfone. Uma hora de entrevista na Rádio Clube AM, só sobre a nossa participação na prova e a vida no mar. Muito legal. É ótimo quando conseguimos ampliar os espaços para divulgar nosso esporte e tentar aproximar um número maior de adeptos.
Voltamos pro clube e mais uma vez a vistoria da Marinha foi adiada. Dessa vez pra sexta-feira. Tem muita coisa ficando pra sexta-feira, pensei, mas vamos ver no que dá.
Na noite da quinta-feira tem o tradicional jantar de abertura da Refeno. Encontro com as tripulações, muitas risadas, gravação com os times, o pessoal da Petrobras, mas nem jantei; terminei as gravações e saí de fininho. Hotel e cama. O dia seguinte seria longo.
Sexta-feira 21/09/2007
E começou cedo mesmo. Sete horas já tomávamos café e conversávamos eu e Flávia sobre qual seria o truque de mágica que usaríamos pra conseguir fazer tudo que tínhamos programado para aquele dia. Me mandei pro Cabanga pra encontrar com o Hilton da Petrobras, que junto com a Ana Guaranis e a Cristina, receberíamos o Paulo Nasi e o Wladimir Figueirêdo, nossos convidados e passageiros do nosso barco até Noronha. Saímos para um passeio com o barco pelo canal do porto do Recife, para batermos um papo e oferecer aos dois um petisco do que viria a ser a viagem que eles fariam pela primeira vez. Havia uma certa expectativa quanto a essa experiência, pois o pessoal da Petrobras não queria que nada desse errado, afinal eram convidados dela para o passeio e nada podia falhar.
Pena que o dia estava nublado, mas mesmo assim os botos da entrada do canal deram o show que precisávamos para tornar o passeio divertido. Marquinhos e Pedro foram fundamentais na ajuda nas operações com o barco e o astral como sempre.
10:30h - Encostávamos de novo no Cabanga pra encontrar uma Flávia aflita por acabar logo com a lista de providências. Tentamos novamente fazer a vistoria da Marinha, mas mais uma vez ficou pra depois do almoço. Comemos rapidamente e mais uma entrevista, desta vez num programa ao vivo na TV Band de Recife, o “Bem Viver” de Gardênia Cavalcanti. Mais uma vez nos sentimos em casa, tamanha a simpatia do pessoal em nos receber. Um programa ao vivo, somente sobre a nossa experiência com o mar. Genial! Lá também encontramos as telespectadoras que ganharam no programa da Gardênia o direito de velejar conosco no meio da tarde. É pois é, ainda tem este passeio!
Então, pra tentar operar um milagre, assim que terminou a entrevista, saí rápido pra chegar antes no Cabanga, tempo suficiente pra realizar a vistoria da Marinha, enquanto o pessoal da TV almoçaria e nos encontraria lá. Quer saber no que deu?
No próximo artigo, quando eu conto também o que foi a velejada até Fernando de Noronha.
Um Abraço!
Denis Peres
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