* Texto e fotos por Flávia Figueirêdo
Tentando caminhar pela Barra que eu tanto gosto, fiquei me perguntando isso. O mar revolto quebrando, a lama escorrendo, os galhos no chão, as amendoeiras centenárias cortadas e somente cimento no meio do caminho. As pedras, todas elas, já estavam fora. Arrancadas. Agora é cada um pra um lado, defendendo o seu. O IPHAN diz que não tinha autorizado a retirada de todo, o prefeito, que apresentou e cumpriu as exigências legais, Caetano, recém-chegado da Itália, assombrado com o descabimento público e o povo, bem, o povo, alheio, à margem. Só entrou na história depois do escarcéu de mais alguns incomodados esclarecidos. Então, só depois, vem a “consulta pública”. Aonde? Na internet, claro! Afinal, é óbvio que na capital onde reina o desemprego e o semi-analfabetismo, toda a população tem acesso à internet. Então, porque será que a gente não vota nessas eleições pela internet? Além do “Big Brother Bairro” pode ser mais uma séria proposta a se pensar...
Confesso que ando meio envergonhada. Não posso dizer da Bahia, posto que não a alcanço em extensão, muito menos em conhecimento, mas de Salvador - com a propriedade de quem gosta de andar pelas ruas, assistir a shows, ir à orla, viver a boemia. Ver a cidade. Mas que cidade? Os eventos culturais caríssimos ou “apenas para convidados”, os parques sem programação, as praias sem orla, a orla sem segurança, a cidade sem segurança, a diversidade segmentada e o lazer do baiano “comum” renegado a migalhas dadas em abundância especialmente agora, na panela infernal do carnaval político.
Salvador está sendo violentada sem maquiagem. Nem cartões-postais (sempre mais cuidados que a própria população) estão a salvo. Pelourinho e Porto da Barra, claro, são emblemáticos - mas são apenas os “caldos” da “Bahia do discurso” que artistas, políticos, intelectuais, imprensa, e o próprio povo baiano aprendeu a reproduzir desde sempre. Toda a aura publicitária de uma cidade que dia após dia existe menos. Não é à toa que Caymmi já morava há tempos no Rio de Janeiro. E lá escolheu morrer. E não é à toa que ninguém, no alto do famosíssimo “bairrismo” baiano tenha se perguntado o porquê.
Seguindo a moda política e atendendo ao malicioso apelo do exagero, tenho vontade de blasfemar que nem na época de Tomé de Souza Salvador esteve tão maltratada. Mas desde a época do colégio que sei que não há nada tão ruim que não possa piorar... Agora a primeira capital do Brasil respira o glamour dos banhos de luz com “lindíssimos” postes coloridos galvanizados, das carreatas atrapalhadas da polícia em plenas avenidas, das vias engarrafadas, dos meio-fios caiados em tons de branco-jiquiriçá e dos pedintes “guardadores” de carro em qualquer ponto da cidade. Falta só alguém que ponha o velho cartaz do “Estamos em obras para melhor atendê-los”. Mas quando, ninguém sabe. Talvez a SET?
E assim seguimos: balançando o chão da praça, mas sem saber quando seremos e nos levaremos a sério; quando cultura será mais que acarajé, capoeira e trio elétrico, quando patrimônios serão realmente preservados e se valorize uma cidade que transborda riqueza cultural por todos os lados. Porque é isso que se vê em lugares que não foram nem de longe agraciados pela natureza, como nós, mas pelo menos com a inteligência e o bom senso de quem lá vive e as governa.
Aos leitores peço desculpas pelo tom mais indignado, quem sabe, mais desiludido. Mas a desilusão é também uma “cachaça” essencial (e cara) para que possamos bebericar as outras, prazerosamente ordinárias.
Tentando me arranjar entre a balaustrada e o cimento da incrível arquitetura recém-desenhada do Porto da Barra, desisto de caminhar e termino optando mesmo é por uma lata de cerveja. E depois de alguns minutos o mar que quebra na praia já não é tão bonito. Fora a “arquibancada” emprestada pela prefeitura, me sobra ainda o esgoto na areia da praia, a pichação que recebe o banhista logo na descida das escadas, maconheiros sem cerimônia e a baianidade em sua mais autêntica expressão gritando ao meu lado: “Bora, Baêa, porra!” Talvez, se Caymmi ainda pudesse revisitar a Bahia que tanto escrevera em seus versos, arriscasse cantar agora uma impensada paródia de si mesmo: “Você já foi à Bahia, nêga? Não? Então, não vá!”
Tentando caminhar pela Barra que eu tanto gosto, fiquei me perguntando isso. O mar revolto quebrando, a lama escorrendo, os galhos no chão, as amendoeiras centenárias cortadas e somente cimento no meio do caminho. As pedras, todas elas, já estavam fora. Arrancadas. Agora é cada um pra um lado, defendendo o seu. O IPHAN diz que não tinha autorizado a retirada de todo, o prefeito, que apresentou e cumpriu as exigências legais, Caetano, recém-chegado da Itália, assombrado com o descabimento público e o povo, bem, o povo, alheio, à margem. Só entrou na história depois do escarcéu de mais alguns incomodados esclarecidos. Então, só depois, vem a “consulta pública”. Aonde? Na internet, claro! Afinal, é óbvio que na capital onde reina o desemprego e o semi-analfabetismo, toda a população tem acesso à internet. Então, porque será que a gente não vota nessas eleições pela internet? Além do “Big Brother Bairro” pode ser mais uma séria proposta a se pensar...
Confesso que ando meio envergonhada. Não posso dizer da Bahia, posto que não a alcanço em extensão, muito menos em conhecimento, mas de Salvador - com a propriedade de quem gosta de andar pelas ruas, assistir a shows, ir à orla, viver a boemia. Ver a cidade. Mas que cidade? Os eventos culturais caríssimos ou “apenas para convidados”, os parques sem programação, as praias sem orla, a orla sem segurança, a cidade sem segurança, a diversidade segmentada e o lazer do baiano “comum” renegado a migalhas dadas em abundância especialmente agora, na panela infernal do carnaval político.
Salvador está sendo violentada sem maquiagem. Nem cartões-postais (sempre mais cuidados que a própria população) estão a salvo. Pelourinho e Porto da Barra, claro, são emblemáticos - mas são apenas os “caldos” da “Bahia do discurso” que artistas, políticos, intelectuais, imprensa, e o próprio povo baiano aprendeu a reproduzir desde sempre. Toda a aura publicitária de uma cidade que dia após dia existe menos. Não é à toa que Caymmi já morava há tempos no Rio de Janeiro. E lá escolheu morrer. E não é à toa que ninguém, no alto do famosíssimo “bairrismo” baiano tenha se perguntado o porquê.
Seguindo a moda política e atendendo ao malicioso apelo do exagero, tenho vontade de blasfemar que nem na época de Tomé de Souza Salvador esteve tão maltratada. Mas desde a época do colégio que sei que não há nada tão ruim que não possa piorar... Agora a primeira capital do Brasil respira o glamour dos banhos de luz com “lindíssimos” postes coloridos galvanizados, das carreatas atrapalhadas da polícia em plenas avenidas, das vias engarrafadas, dos meio-fios caiados em tons de branco-jiquiriçá e dos pedintes “guardadores” de carro em qualquer ponto da cidade. Falta só alguém que ponha o velho cartaz do “Estamos em obras para melhor atendê-los”. Mas quando, ninguém sabe. Talvez a SET?
E assim seguimos: balançando o chão da praça, mas sem saber quando seremos e nos levaremos a sério; quando cultura será mais que acarajé, capoeira e trio elétrico, quando patrimônios serão realmente preservados e se valorize uma cidade que transborda riqueza cultural por todos os lados. Porque é isso que se vê em lugares que não foram nem de longe agraciados pela natureza, como nós, mas pelo menos com a inteligência e o bom senso de quem lá vive e as governa.
Aos leitores peço desculpas pelo tom mais indignado, quem sabe, mais desiludido. Mas a desilusão é também uma “cachaça” essencial (e cara) para que possamos bebericar as outras, prazerosamente ordinárias.
Tentando me arranjar entre a balaustrada e o cimento da incrível arquitetura recém-desenhada do Porto da Barra, desisto de caminhar e termino optando mesmo é por uma lata de cerveja. E depois de alguns minutos o mar que quebra na praia já não é tão bonito. Fora a “arquibancada” emprestada pela prefeitura, me sobra ainda o esgoto na areia da praia, a pichação que recebe o banhista logo na descida das escadas, maconheiros sem cerimônia e a baianidade em sua mais autêntica expressão gritando ao meu lado: “Bora, Baêa, porra!” Talvez, se Caymmi ainda pudesse revisitar a Bahia que tanto escrevera em seus versos, arriscasse cantar agora uma impensada paródia de si mesmo: “Você já foi à Bahia, nêga? Não? Então, não vá!”
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